sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Arthur de Azevedo - LIÇÃO DE CASA - LENDA URBANA



       Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís, MA, em 7 de julho de 1855. Foi, ao lado do irmão Aluísio, um dos fundadores da ABL, na qual criou a cadeira 29, que tem como patrono Martins Pena.
      Arthur Azevedo foi jornalista, poeta, contista e teatrólogo. Entre seus companheiros figuravam Olavo Bilac e Coelho Neto.
     Foi um dos grandes defensores da abolição da escravatura, tendo escrito as peças O Liberato e A Família Salazar, esta última escrita em colaboração com Urbano Duarte, proibidas pela censura do Império, e mais tarde, publicadas em um volume intitulado O escravocrata.
      Sua ligação com o teatro se reflete nos quatro mil artigos sobre eventos artísticos, publicados em jornais de grande circulação da época tais como O País, O Diário de Notícias e O Mequetrefe, no qual teve importante participação como articulista.
      Embora já escrevesse contos desde 1871, foi só em 1889 que se animou a reunir alguns deles no volume Contos Possíveis, dedicado a Machado de Assis.
      Simultaneamente aos contos e artigos, desenvolvia também os teatros de revista, ou somente revistas que o projetaram como um dos maiores teatrólogos brasileiros do gênero.
      Além disso, durante três décadas lutou pela construção do Teatro Municipal, a cuja inauguração não pôde assistir.

Sua produção em revista é a seguinte:

       Em 1884, escreve, com Moreira Sampaio, a revista O Mandarim. Sai O escravocrata, reunião de duas peças anteriores (O Liberato e A família Salazar), escrito em colaboração de Urbano Moraes.
       Em 1885, publica, em parceria com Moreira Sampaio, Cocota.
      Em 1886 sai a revista O Bilontra, escrita conjuntamente com Moreira Sampaio, e Mercúrio,encenada no teatro Lucinda.
      Em 1887, assinada por Arthur Azevedo e Moreira Sampaio, estréia no teatro O Carioca.
      O Homem sai em 1887, e também é escrita pela dupla Arthur Azevedo e Moreira Sampaio. A revista é baseada no romance homônimo do irmão de Arthur, o naturalista Aluísio Azevedo.
      Em 1889 Azevedo e Sampaio lançam, no Teatro Santana, a revista Dona Sebastiana
     Em 1890 sai a revista A República, publicada juntamente com o irmão Aluísio. A estréia da revista foi no dia 26 de março do mesmo ano; composta por 13 quadros, parece ter sido um dos poucos sucessos de 90; Rose Villiot, uma das estrelas do gênero de revista da época, representou o papel da República.
       No ano de 1892 sai O Tribofe, assinada somente por Arthur Azevedo.
       Em 1897 sai Capital Federal.
       Em 1898, O Jagunço.
     Em 1899, Arthur Azevedo "empresta" de Os Miseráveis, de Vitor Hugo, a personagem de um herói adolescente, cujo nome era Gavroche, para dar nome à sua revista.
       Em 1902 publica O retrato a óleo
       Em 1907 escreve O dote, que segundo a crítica é umas de suas mais bem acabadas revistas.
       Os c ontos e poesias de Arthur Azevedo publicados são os seguintes:
      Carapuças, poesias (1871); Sonetos (1876); Um dia de finados, sátira (1877); Contos fora da moda (1894); Contos efêmeros (1897); Contos em Verso (1898); Vida Alheia, contos (1929); O Oráculo (1956); Teatro (1983).

Arthur Azevedo faleceu no dia 22 de outubro de 1908.

Bibliografia

Escreveu cerca de duzentas peças para teatro e tentou fazer surgir o teatro nacional, incentivando a encenação de obras brasileiras. Como diretor do Teatro João Caetano, no Rio, encenou quinze originais brasileiros em menos de três meses.

Escreveu ainda:

  • Sonetos (1876)
  • Contos fora de moda (1901)
  • Contos efêmeros
  • Contos possíveis (1908)
  • Rimas (1909)


Para o teatro escreveu, entre outras:


  • O Rio de Janeiro de 1877 (1878)
  • A pele do lobo (1877)
  • O Bilontra (1885)
  • A Almanjarra (1888)
  • O Dote (1888)
  • O Badejo (1898)
  • Confidências (1898)
  • O Jagunço (1898)
  • Comeu! (1901)
PARTE BASTANTE IMPORTANTE PARA ESTUDAR LENDARIOS, POÍS "A PELE DO LOBO" É UMA CRITICA AOS COSTUMES DA ÉPOCA, QUE O VERDADEIRO SENTIDO DO TEATRO DE REVISTA.

O TEATRO DE REVISTA

      O teatro de revista tornou-se um gênero popular no Brasil a partir do final do século XIX.
      Entre os principais escritores de revista estava Arthur Azevedo. Em uma de suas revistas, intitulada A Fantasia (1896), ele apresenta a seguinte definição para o gênero:

"Pimenta sim, muita pimenta

E quatro, ou cinco, ou seis lundus,

Chalaças velhas, bolorentas,

Pernas à mostra e seios nus"....

      Pode-se então caracterizar o teatro de revista como um veículo de difusão de modos e costumes, como um retrato sociológico, ou como um estimulador de riso e alegria através de falas irônicas e de duplo sentido, canções "apimentadas" e hinos picarescos.
      A questão visual era uma grande preocupação em peças deste gênero, pois fazia-se necessário manter o "clima" alegre, descontraído, ao mesmo tempo em que se revelava, em última instância, a hipocrisia da sociedade. Para isso, os cenários criados eram fantasiados e multicoloridos, afim de apresentar uma realidade superdimensionada. O corpo, neste contexto, era muito valorizado, fosse pelo uso de roupas exóticas, pelo desnudamento opulento ou pelas danças.
      O acompanhamento musical também era uma de suas características marcantes. Seus autores acreditavam que comentar a realidade cotidiana com a ajuda da música tornava mais agradável e eficiente a transmissão das mensagens.
      Além disso, destacavam-se como elementos composicionais de uma revista o texto em verso, a presença da opereta, da comédia musicada, das representações folclóricas - o pastoril e fandango -, e da dança.
      Importante ressaltar que o teatro de revista visava a agradar a diferentes segmentos da sociedade. Os elementos que a caracterizam são demonstrativos disso. A forma popular de representação abrangia a opereta, a ópera-cômica, o vandeville (interpretação de canções ligeiras e satíricas) e a revista, equivalentes para a pequena burguesia; e a forma aristocrática, exclusiva da nobreza, equivalia à ópera.
      No conteúdo, a crítica de costumes. Essa mistura da sátira e crítica resultou, no Brasil, no que se convencionou chamar de burleta, gênero do qual Arthur Azevedo mais se apropriou para criar os enredos de suas revistas.


O BILONTRA (A palavra bilontra tem como sinônimo indivíduo sem caráter, biltre com ares de homem sério, meio termo entre pelintra e capadócio. Este termo já havia sido título de uma música, cujo nome é "Bilontra da Cidade Nova" (1886). É interessante notar que palavra bilontra já era recorrente na linguagem coloquial do Rio de Janeiro desde 1875.)



     O ano de 1886 teve quatro revistas que subiram aos palcos, dentre elas O Bilontra, de Arthur Azevedo e Moreira Sampaio.

     O Bilontra, que conta com um Prólogo, três atos e 17 quadros, aborda uma crônica policial que tornou-se célebre no Rio de Janeiro no ano anterior: o julgamento de Miguel José de Lima e Silva, que havia tomado três contos de réis do comendador Joaquim José de Oliveira em troca de um título falso de barão. O processo durou exatos dois anos: de setembro de 1884 a setembro de 1886.
     O comendador tentou retirar a revista de cartaz - sentia-se envergonhado por ter "caído no conto do vigário" -, mas não conseguiu.
     A estréia d’O Bilontra aconteceu, não se sabe ao certo, em 28 ou 29 de janeiro, no Teatro Lucinda.
     O elenco era o da Companhia Dias Braga e contava com atrizes como Rose Villiot, que na época já havia abrasileirado seu nome, tornando-se, portanto, Rosa; a orquestra era coordenada e regida pelo maestro Gomes Cardim.
     O Bilontra ultrapassou a marca de 100 representações e foi responsável pela implantação definitiva do gênero no Brasil, conferindo a seus autores o título de os melhores no ofício.
     O êxito extraordinário da revista deve-se, entre outras coisas, ao fato de que seus autores - Azevedo e Sampaio - haviam encontrado a maneira perfeita de agradar aos mais variados tipos de público, graças à escolha da situação a ser encenada. Além disso, a música foi um fator importante: um lundu de Gomes Cardim, "Recreio da Cidade Nova", que domina a Cena VIII do Quadro VIII no 2º ato, alude claramente a Felipe José de Souza Lima, proprietário do modesto e vulgar Teatro Recreio da Cidade Nova, e o refrão "Ataca, Felipe!" entrou para a linguagem coloquial. Na Cena I do Quadro VI do 1º ato cantam e dançam Alerquim, o Carnaval, o Entrudo, Zé Pereira, e a letra menciona Fenianos, Tenentes do Diabo e Democráticos, as três grandes sociedades carnavalescas que imperavam na Corte. Todos estes elementos conjugados demonstram a possibilidade de identificação de uma platéia heterogênea mas predominantemente de classes pouco cultas, com a arte de massa que O Bilontra exemplificava.
     A sucessão das ações espelhava uma crítica acerca das situações ocorridas com as personagens, que por vezes, eram alegóricas. Faustino, o bilontra, é perseguido por meirinhos que vão penhorar seus bens, pois ele deve a uma firma comercial. Surge, então, a oportunidade a Faustino de receber dinheiro com a venda de um baronato. Duas personagens alegóricas - o Trabalho e a Ociosidade - discutem seu destino durante toda a peça. Mas o triunfo é sempre da Ociosidade, que recebe o auxílio da também alegórica Jogatina, filha do rei do jogo.
     Na busca incessante por dinheiro para ajudar Faustino, as duas - Jogatina e Ociosidade - saem pelas ruas do Rio de Janeiro e se deparam com aspectos típicos do cotidiano carioca do século XIX: o jogo à solta, fiscais corruptos, demolição de prédios históricos, especulação imobiliária, a moda do banho de mar logo pela manhã, jornalismo sensacionalista...
     O patriotismo das situações é deixado de lado quando é prestada uma homenagem a Victor Hugo, enquanto o elenco inteiro canta a Marselha, que na época simbolizava as aspirações republicanas.
    Talvez o sucesso da revista tenha se dado exatamente devido ao seu caráter instigante, provocador, subversivo, em um ano no qual o déficit público é superior a 18 mil contos de réis, há crise na lavoura, cresce a propaganda abolicionista, e o Império vai perdendo sua credibilidade.